Da Redação
“Há
políticas culturais para os índios e há políticas culturais dos
índios. Não são a mesma coisa”, afirma a antropóloga Manuela
Carneiro da Cunha, organizadora, juntamente com Pedro de Niemeyer
Cesarino, do livro Políticas
culturais e povos indígenas,
ganhador do Prêmio Jabuti em 2015 na categoria Ciências Humanas,
agora lançado pela Editora Unesp.
O
livro reúne 19 ensaios que procuram distinguir e debater as
políticas culturais feitas para os índios, as feitas pelos índios
e aquelas que de alguma maneira os envolvem. São observadas não
apenas tais políticas, mas também seus pontos de cruzamento e seus
efeitos conjugados.
São
efeitos às vezes claros e às vezes sutis. Por isso, a obra é
assentada em etnografias. Seu valor, portanto, é acautelar-se diante
de generalizações. “Se há semelhanças, sem dúvida, entre
sociedades indígenas no Brasil, até entre aquelas distantes no
espaço e linguisticamente desconectadas, essas conexões não
resultam em homogeneidade. Não se podem generalizar conclusões”,
alerta a organizadora da obra, num elogio do estranhamento. É dessa
perspectiva que se desenvolve esse livro, ao apontar o insólito sob
a aparência do familiar, permitindo-nos exercitar a capacidade de
estranhar.
O
direito dos índios de formular suas próprias políticas culturais
só foi instituído com a Constituição de 1988. Até então, os
projetos existentes visavam ao que se entendia como a “integração”
das populações indígenas. Mas “integração” não passava de
um eufemismo para um programa de assimilação cultural e de
dissolução étnica, afirmam os autores.
Dirigido
a quem se envolve em políticas culturais, o livro levanta e comenta
difíceis questões como: Qual são as relações adequadas entre a
escola e as sociedades indígenas, entre o saber que capacita os
índios a melhor se mover na sociedade brasileira e os conhecimentos
e práticas tradicionais que se quer valorizar, entre uma tradição
oral e uma tradição escrita? É possível ensinar “cultura” na
escola?
Sobre
os organizadores -
Manuela Carneiro da Cunha é antropóloga. Doutorou-se e ensinou na
Universidade Estadual de Campinas (1973-1984), foi professora titular
na Universidade de São Paulo (1984-1994) e na Universidade de
Chicago (1994-2009). É membro da Academia Brasileira de Ciências.
Foi titular da cátedra “Savoirs contre pauvreté” no Collège de
France (2011-2012). Recebeu vários prêmios, entre os quais a Ordem
do Mérito Científico na Classe Grã Cruz, a Légion d’Honneur da
França, a medalha Roquette-Pinto da Associação Brasileira de
Antropologia e a medalha da Francofonia da Academia Francesa. Sua
atuação distribui-se pela etnologia, história e direitos dos
índios, escravidão negra, etnicidade, conhecimentos tradicionais e
teoria antropológica.
Pedro
de Niemeyer Cesarino é graduado em Filosofia pela Universidade de
São Paulo, mestre e doutor em Antropologia Social pelo Museu
Nacional/ UFRJ, tendo realizado seu pós-doutorado no Departamento de
Letras da Universidade de São Paulo (2008-2010). Foi professor do
Departamento de História da Arte da Unifesp e, atualmente, leciona
no Departamento de Antropologia da USP. É autor de Oniska
– poética do xamanismo na Amazônia (Perspectiva,
2011), terceiro lugar do Prêmio Jabuti de Ciências Humanas,
e Quando
a Terra deixou de falar – cantos da mitologia marubo (Editora
34, 2013).
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