É
certo que interferências que não são de responsabilidades das empresas de
ônibus, prejudicam os serviços, mas tem erros que são evidentes e de culpa do
mau prestador de serviço que macula a imagem de quem quer trabalhar bem
Numa cultura em que se incentiva ainda
uso do veículo particular em detrimento do transporte público, refletindo assim
nos investimentos e nas políticas adotadas pelos gestores, realmente é muito
difícil prestar um serviço ideal de transporte coletivo.
Os ônibus, por exemplo, têm pouca
prioridade no espaço urbano, mesmo transportando em média 20 vezes mais que um
carro e proporcionalmente ocupando cinco vezes menos as já conturbadas ruas e avenidas
das cidades.
O transporte coletivo vive diferentes
gargalos. Os ônibus ficam presos nos congestionamentos; as tarifas são caras
para o passageiro, mas insuficientes para cobrir os custos; não há uma
infraestrutura adequada para colocar ônibus mais confortáveis e acessíveis em
todos os sistemas; vandalismo e violência são preocupações de quem trabalha com
transportes. Tudo isso obviamente vai interferir na qualidade dos serviços sem
que empresa de ônibus possa fazer muita coisa. Mesmo assim, ela é responsabilizada
pelo usuário.
Um dos reflexos disso, nocivos
inclusive para a qualidade de vida nas cidades que precisam reduzir o trânsito
e a poluição, é a perda de passageiros dos transportes coletivos e,
consequentemente, da eficiência. Hoje são necessários mais ônibus para
transportar menos pessoas, o que implica custos maiores.
De acordo com Associação Nacional das
Empresas de Transportes Urbanos - NTU, entre 1994 e o primeiro semestre de
2016, houve uma queda de 33% na demanda do transporte coletivo, apesar do
crescimento populacional. A produtividade de cada ônibus diminuiu mais da
metade no período. Em 1994, cada ônibus transportava entre 800 e 900
passageiros por dia em média no Brasil. Agora são 480 passageiros por ônibus.
É uma discussão ainda pouco aprofundada
na sociedade e principalmente entre os oportunistas políticos.
No entanto, a verdade que precisa ser
ressaltada para o bem do setor, inclusive para os empresários de ônibus que
pensam no passageiro como cliente e não apenas como um usuário, é que as tais
externalidades também têm sido pretextos para quem não quer prestar um serviço
direito e se acha protegido pela tal concessão. “Ganhei a licitação, só preciso
colocar ônibus na rua”.
O empresário que pensa assim vai perder
e vai prejudicar os outros empresários e, claro, principalmente a população.
Hoje os ônibus sofrem todo tipo de
concorrência. Com o gasto mensal da passagem, a pessoa pode financiar uma moto
usada (ou até nova). Os carros que ganharam ao longo da história incentivos
fiscais com valores maiores do que foi destinado à saúde e educação também
podem ser comprados facilmente. Aplicativos de transporte e táxis mais baratos
também concorrem com transporte coletivo, mas muito empresário de ônibus ainda
tem a cabeça na “tal licitação ganha”.
A licitação pode se ganhar uma vez, mas
o passageiro tem de se “ganhar” todos os dias.
Por isso que cada detalhe deve ser
pensado para conquistar o cliente, fidelizar o público e acima de tudo, tratar
o cidadão e o ser humano como merece.
O ônibus atrasar por causa de um
congestionamento, de uma enchente de uma manifestação... isso é externalidade.
Mas porque a ordem de serviço não foi cumprida pelo fato de um empresário
muitas vezes matar a viagem que não dá tanto lucro (e acreditem isso ainda
acontece muito), aí é falta de responsabilidade do prestador de serviços.
O ônibus quebrar por causa de um buraco
na rua, por causa de um desnível... pode acontecer.
Agora, convenhamos, existem empresas
que também não cuidam muito bem da conservação de seus veículos.
O ônibus passou numa comunidade que não
tem asfalto e, por exemplo, tem seu corredor interno sujo de barro, faz parte
da operação.
Agora ônibus com baratas, papel
acumulado de vários dias (o passageiro infelizmente coloca lá, mas tem que limpar,
ué), com reparos mal feitos, até mesmo cantos vivos de bancos e componentes do
interior do ônibus que podem machucar o passageiro, ou seja, o cliente, aí é
desleixo puro.
Por isso que a população deve estar de
olho na prestação dos serviços e o gerenciado, gerenciar.
Cabe sim à população reclamar por tudo
e cabe ao poder público ser isento, compromissado com quem o elegeu e não com
quem o financiou na campanha, verificar de quem é a responsabilidade pelo fato
relatado na reclamação. Criar políticas que incentivem a boa operação e sim,
depois, punir severamente.
Um bom empresário vai ler esse texto e
gostar, porque ele não quer ter o seu bom serviço ou sua categoria manchados
por causa de meia dúzia de empresários que ainda pensam que passageiro é pior
que gado para o abate a ser transportado.
Se comunicar com passageiro, não apenas
pelos tradicionais SACs telefônicos, mas também por redes sociais, aplicativos,
informativos nos veículos deve ser algo que o bom e moderno prestador de
serviços de transporte deve observar.
Adamo Bazani, jornalista especializado
em transportes
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