Jabuti Freddy foi o primeiro paciente do grupo "Animal Avengers", que dá uma nova chance a animais em estado grave de saúde
FOTO: CICERO MORAES/ANIMAL AVENGERS) PASSO A PASSO DO NOVO CASCO DO JABUTI.
Por 200 horas — pouco mais de uma semana — o veterinário voluntário em meio período dormiu com uma ruidosa impressora 3D ligada na cabeceira de sua cama. O novo casco de Freddy, modelado no computador pelo designer Cicero Moraes, crescia um pouco a cada dia. O dentista já havia trabalhado com perícias odontológicas e reconstruções faciais, e dentes não são assim tão diferentes de bicos e cascos.
Em 2013, Miamoto encerrava uma palestra sobre o uso de fotografia em técnicas de modelagem 3D na Faculdade de Odontologia (FO) da USP quando o veterinário Roberto Fecchio, especialista em odontologia animal que estava na platéia, foi falar com ele.
A conversa dos dois se tornou uma bola de neve, e em 2015, com mais quatro membros, os agora intitulados Animal Avengers ("vingadores dos animais", um trocadilho com a franquia da Marvel), de São Paulo, alcançaram sua primeira vitória.
O modelo para a nova "roupa" de Freedy foi um outro jabuti da mesma espécie, e a equipe se supreendeu com a facilidade com que o casco artificial, bem mais barato que uma prótese médica tradicional, se encaixou no animal.
"Todos os animais são resgatados. No começo, eles chegavam a nós quando eram encontrados muito debilitados e levados a um dos veterinários", explica Miamoto. "Na natureza não sobreviveriam, morreriam de fome." O dentista explica que o destino de bichos em estado grave em abrigos geralmente é a eutanásia.
Na média, há poucos cuidadores disponíveis, e os ferimentos demandam muita atenção. "A prótese é a única chance que os animais têm de retomar sua autonômia, ganhar peso e ter uma qualidade de vida melhor".
(FOTO: ANIMAL AVENGERS) TUCANO COM BICO PROTÉTICO INSTALADO.
Desde o sucesso com Freddy — que pode inclusive continuar crescendo, já que o casco é formado por placas deslizantes que se adaptam ao formato de seu corpo —, os Animal Avengers não param de receber pedidos de ajuda.
Algumas pessoas até se esquecem de que o grupo é voluntário e cobram urgência da equipe. "O trabalho é voluntário, sem fins lucrativos", esclarece Miamoto. "Nós precisamos achar tempo na agenda, e não temos o apoio de ninguém. Há faculdades e empresas que cedem material e espaço, mas isso é raro."
Freddy foi só o primeiro. O último grande resgate do grupo foi a Gansa Vitória, encontrada abandonada e com o bico cortado após sofrer maus-tratos. A primeira tentativa de implantar um bico sintético no pássaro não deu certo. Uma segunda versão, mais leve e com maior abertura para as narinas, vingou, e Vitória voltou a comer normalmente.
Algum tempo depois, levada à Ilha Comprida, no litoral paulista e acasalou. "Depois do pós-operatório ela foi levada para a Horta Municipal, onde foi montado um viveiro. Colocaram um ganso macho e ela teve filhotes. Isso nos diz, do ponto de vista biológico, que o animal está curado, cumprindo sua função na natureza. A gente se emocionou muito."
FOTO: ANIMAL AVENGERS) TUCANO ANTES DA IMPLANTAÇÃO, SEM PARTE DO BICO.
O grupo também salvou tucanos como Pirata e Zazu. Tanto eles quanto Freddy ganharam próteses pintadas. A cor dos animais contribui com sua aceitação por membros da mesma espécie e é essencial para a camuflagem, então é importante que as próteses simulem o melhor possível a aparência dos órgãos reais. Freddy foi pintado por um artista plático voluntário.
A equipe atual é formada por Roberto Fecchio, Paulo Miamoto, Guilherme Costa, Lucas Porto, Sergio Camargo, Rodrigo Rabello, Matheus Rabello, Marco Antonio Campos e Henrique Perez. O designer Cicero Moraes, responsável por modelar as próteses que ilustram a reportagem, deixou o grupo em outubro deste ano para se dedicar a projetos pessoais.
0 comentários:
Postar um comentário