Evento organizado pela Columbia Global Center do Rio de Janeiro, em parceria com a plataforma UM BRASIL, reuniu protagonistas do pensamento econômico que ditaram os caminhos para o crescimento.
São Paulo, 14 de dezembro de 2016 - Em meio à aprovação da PEC 55, sobre o teto dos gastos públicos, pelo
Senado, que demonstra ao mercado uma nova postura do governo brasileiro de
responsabilidade fiscal, a Columbia Global Center do Rio de Janeiro, da
universidade norte-americana de Columbia, realizou, na sede da Federação do
Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), o
evento "Estratégia para o crescimento: a mudança do papel do Estado".
O seminário reuniu importantes especialistas e economistas brasileiros e
estrangeiros, além do presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, e do diretor
executivo do Banco Mundial, Otaviano Canuto.
No primeiro painel, Goldfajn expôs os
motivos que levaram o Brasil a atual recessão e apontou os caminhos que podem
recolocar a economia brasileira na rota do crescimento, além do papel, da
política monetária nesse contexto. Segundo o presidente do Banco Central, a
política econômica intervencionista e de expansão dos gastos para enfrentamento
da desaceleração econômica foi um dos principais motivadores da desconfiança
dos agentes econômicos e, consequentemente, da crise atual.
"Até 2010, as economias baseadas
na exportação de commodities, como o Brasil,
tiveram grandes ganhos, porém, quando veio a desaceleração, o País não respondeu da
maneira positiva. O governo tratou a crise como um choque passageiro e não com
a proporção que a crise se mostrou posteriormente. Aliadas a isso, as políticas
públicas adotadas para superar a crise foram muito intervencionistas, alteraram
os preços de produtos e serviços importantes para a economia como a gasolina,
energia elétrica, entre outras. O intervencionismo gerou uma inflação reprimida
e dúvidas sobre as regras do jogo, afastando investidores. Houve o que chamamos
de desalavancagem", apontou.
Com a alteração de governo, Goldfajn,
afirmou que a política econômica apresentou mudanças claras de direção com o
mercado reagindo de maneira positiva. "Isso aumentou a confiança da
indústria, as bolsas de valores subiram e deu novo ânimo para investidores
pensarem no País. Porém, mesmo com essas mudanças, o sistema de alavancagem
ainda está em curso e temos legs econômicos que ainda atrapalham a retomada do crescimento e demoram a
fazer efeito", ponderou. Ainda segundo ele, as reformas fiscais propostas
pelo governo são fundamentais para a saída da recessão. "Quando se tem
muitas despesas, é necessário ser financiado. Até a década de 1980, a inflação
financiava os gastos públicos, porém, depois que a inflação se estabilizou,
passou-se a financiar o sistema via aumento da carga tributária. Essa postura
engasgou o investimento e o crescimento das empresas. A outra opção é via endividamento,
que culminou no atual descontrole das contas públicas que a PEC 55 visa
combater", afirmou Goldfajn. O Banco Central também tem papel fundamental
para retomar o crescimento do País. "Quando existe a retomada da confiança
e a concretização das reformas necessárias, é possível baixar a inflação, como
está ocorrendo agora. A inflação encerrou 2015 na casa dos 11%, no início da
nossa gestão (junho de 2016), estava em torno de 9%, encerraremos o ano no
patamar entre 6% e 7% a expectativa para 2017 é de 4,9%. Para os anos de 2018 e
2019, voltaremos para o centro da meta que é de 4,5%. O controle da inflação é
um importante fator para se tirar a incerteza para os investidores voltarem a
apostar no Brasil", finalizou.
Para o diretor do Banco Mundial, Otaviano
Canuto, o Brasil vive um período com crescentes gastos públicos, e de
"anemia de produtividade", que travam o crescimento do País.
"Mesmo no auge do período vivido pela alta das commodities, o aumento da produtividade foi medíocre no País. Isso não afetou o
crescimento naquele momento, porque o poder de compra dos brasileiros compensou
isso. Mas hoje faz falta", apontou.
Para Canuto, para melhorar a
produtividade é necessário aprofundar a melhoria na qualidade da educação e
investir em infraestrutura para movimentar a economia. "O Banco Mundial
aponta ser necessário gastar pelo menos 3% do PIB do Brasil por ano para manter
a infraestrutura já existente no País. Mas desde 2010, vemos o governo gastar
apenas 2,5%, ou seja, está se consumindo a infraestrutura e não investindo em
sua manutenção e muito menos em seu crescimento", afirmou. Canuto ponderou
ainda que as reformas tributárias, fiscais e de facilitação do comércio
alimentariam o produtividade do País e acabariam com o desperdício de recursos.
Em seu discurso, o professor e
economista da Fundação Getulio Vargas (FGV-EESP), Marcio Holland, comemorou a
aprovação da PEC do tetos dos gastos públicos, pelo Senado, e afirmou que é o
primeiro passo para reequilibrar os gastos. "Essa medida trará de volta a
possibilidade de tomar decisões anticíclicas e dar eficiência aos gastos",
apontou. A diretora do Departamento de Economia do European Investment Bank,
Debora Revoltella, corroborou com a ideia de Holland e acredita que o corte de gastos
é uma medida possível para tornar as contas sustentáveis. "Estamos
acostumados a trabalhar com mínimos recursos, pois temos qualidade nos gastos.
Acho que isso é possível também no Brasil para tornar os gastos mais
eficientes", afirmou.
Futuro
No segundo e último painel foi
discutido o futuro do Brasil em uma perspectiva comparativa. Em seu discurso, o
professor emérito de Estudos Brasileiros da Universidade de Columbia, Albert
Fishlow, foi enfático: "Há algo especial na América Latina e não podemos
subestimar a capacidade do Brasil de superar seus problemas". Segundo
Fishlow, até a década de 1990 o País sofria com alta inflação e exportava
basicamente apenas no setor agrícola. Em pouco tempo foi capaz de desenvolver
outras fontes de riquezas, como tecnologia e inovação, superando até mesmo
países europeus, na visão de Fishlow, porém, não conseguiu sustentar o
crescimento. "Existe uma enorme dificuldade de administrar e absorver um
país que cresce. A saída brasileira foi aumentar o tamanho do Estado, mas a solução
é o equilíbrio fiscal", apontou.
Para o diretor do Centro de
Governança Econômica Global da Universidade de Columbia SIPA, Jan Švejnar, a
crise pode ser uma boa oportunidade para o Brasil reorganizar seu sistema de
governança e se tornar mais competitivo. "Historicamente, as crises
favorecem a reformulação da governança dos governos. A questão é: o País será
capaz de se estruturar e tornar-se competitivo? Eu sou otimista com o Brasil e
acredito que o País tem um potencial não explorado, nas áreas do
empreendedorismo e da inovação, e com um sistema bancário saudável, como está,
é possível retomar o crescimento global", afirmou Švejnar. O professor de
Negócios e Economia Chinesa e professor de Economia e Finanças da Universidade
de Columbia SIPA, Shang-Jin Wei, ponderou ainda que o combate à corrupção é
fundamental para reequilibrar os gastos públicos, além de melhorar a imagem do
País para o mundo.
O evento fez parte da iniciativa do
Center on Global Economic Governance da Universidade de Columbia, liderada pelo
professor Jan Švejnar, que tem desenvolvido uma série de conferências para
examinar em profundidade a mudança do papel do Estado nos modelos econômicos e
o surgimento de diferentes sistemas econômicos pelo mundo. "A ideia é
tentar entender o mundo e promover o conhecimento. Por isso nos reunimos neste
momento tão importante para o Brasil", apontou o diretor da Columbia
Global Center do Rio de Janeiro, Thomas Trebat. O presidente da FecomercioSP,
Abram Szajman, reforçou o papel da Entidade na promoção de debates e discussões
que promovem o desenvolvimento do comércio e do País. "Atenta às carências
de uma sociedade já cansada de um longo período de paralisação, a FecomercioSP
reúne recursos para dar voz a quem não tinha, para ouvir e pensar um Brasil
melhor. Assim criamos o canal UM BRASIL que ouve especialistas que acrescentam
ideias para o desenvolvimento do País", finalizou.
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