Infectologista da Unesp é entrevistado pela Folha de S. Paulo
ANGELA PINHO PAULO GOMES DE SÃO PAULO - Folha de S. Paulo
A OMS (Organização Mundial da Saúde) afirma ser esperada a
detecção de casos de febre
amarela em outros Estados do Brasil além de Minas Gerais, que
concentra a maior parte dos registros, Espírito Santo e São Paulo. O país vive
o maior
surto da doençadesde 1980, quando teve início a série histórica. Em informe
desta sexta-feira (27), a entidade diz que as autoridades brasileiras estão
tomando medidas apropriadas para conter o surto, mas reforça a necessidade de
vacinação nas áreas de risco. "É esperado que casos adicionais serão
detectados em outros Estados do Brasil considerando-se o movimento interno de
pessoas e macacos infectados e o baixo nível de cobertura vacinal em áreas que
antes não eram consideradas de risco para transmissão de febre amarela",
diz o informe da organização.
O vírus da febre amarela é transmitido no Brasil por
mosquitos silvestres, que circulam apenas em regiões de mata. Desde 1942 hão há
registro de transmissão pelo mosquito Aedes
aegypti, o inseto vetor de dengue e zika que
circula nas cidades.
A entidade internacional afirma que não há evidências de que
isso esteja ocorrendo, mas declara que "o risco de transmissão urbana de
febre amarela não pode ser excluído". Isso pode acontecer, diz o texto, se
pessoas infectadas se deslocarem para áreas onde o mosquito circula, dentro ou
fora do Brasil.
Para a organização, o aumento dos casos ao longo do mês, a
confirmação de pacientes em outros Estados e a ocorrência de mortes de macacos
ressaltam a propagação geográfica do vírus.
Até esta sexta, o país registrou 101 casos confirmados, dos
quais 97 em Minas Gerais, 3 em São Paulo e um no Espírito Santo. Há ainda
suspeitas na Bahia, Goiás e Mato Grosso do Sul.
O informe da OMS segue orientação anterior do governo
brasileiro e amplia a área de recomendação de vacina contra o vírus. O novo mapa
inclui o sul da Bahia, o norte do Rio de Janeiro e todo o território capixaba,
com exceção da área urbana de Vitória.
A entidade diz não recomendar, com base nos dados atuais,
restrição a viagens ao Brasil. O texto preconiza a vacinação ao menos dez dias
antes da ida a áreas afetadas e a adoção de medidas para evitar picadas de
mosquito.
MINISTÉRIO
Em nota sobre o comunicado, o ministério afirma que "o
risco de reurbanização da febre amarela é muito baixo".A pasta cita que,
no levantamento nacional de 2016 sobre a infestação de Aedes, 63% dos
municípios participantes tiveram índice abaixo de 1%, considerado satisfatório,
e 8,6% tiveram indicador acima de 4%, que representa risco de epidemia de
dengue."Para que se instale um ciclo urbano de transmissão da febre
amarela, baseado no histórico das últimas epidemias na África, são necessários
índices muito superiores, estimando-se que, naquelas ocasiões, os índices
superaram 50% de infestação por Aedes", diz a pasta.Para Carlos Magno
Fortaleza, infectologista da faculdade de medicina da Unesp em Botucatu (SP), a
matemática é simples. "Se tiver muita gente com febre amarela e
muito Aedes aegypti na mesma área, vai haver a transmissão urbana.
A vacinação em massa não é recomendada por causa do risco
de efeitos colaterais. Fortaleza afirma que, individualmente, o risco é
"minúsculo". "Mas em milhões de pessoas o número de eventos adversos
será muito grande."
Uma das soluções em uma situação de emergência, segundo o
infectologista, seria a multiplicação das vacinas, diminuindo a dose de vírus.
A adoção desse procedimento foi sugerida pela OMS para lidar com a escassez de
vacinas durante a última crise da doença no continente africano, em 2016, como
maneira de conter o surto.
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