Voltar a confiar pode ser o primeiro passo para ajudar na retomada da economia e dos empregos
Por Othon Almeida*
O IBGE (Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística) confirma neste final de janeiro que o desemprego
foi um dos mais sérios problemas vividos no país em 2016. De acordo com dados
da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, realizada em 3.500
municípios, o número de desempregados atingiu 11,8 milhões, um crescimento de
37,2% em relação aos 8,6 milhões de pessoas sem trabalho no ano anterior.
Esse é o maior patamar de
desemprego da série histórica da pesquisa, cuja atual metodologia começou a ser
utilizada em 2012. Dessa forma, o desemprego médio anual entre os brasileiros
atinge a casa dos dois dígitos pela primeira vez, com 11,5% da população
economicamente ativa à procura de trabalho.
O desemprego em patamar
elevado e a renda em queda, como registrado, são elementos negativos para o
setor produtivo nacional, já que os impactos constritivos sobre o consumo e a
atividade econômica são consideráveis. Eles afetam em cadeia a indústria, o
varejo e os serviços, além de impactar significativamente as instâncias
governamentais.
No entanto, os dados do IBGE
mostram que, apesar de o primeiro semestre do ano passado ter sido ruim, o
segundo apresentou uma melhora. Em setores como comércio, alojamento e
transportes houve saldo positivo de contratações, por exemplo.
Assim, apesar do resultado
negativo no conjunto, para os mais otimistas – grupo ao qual faço questão de me
incluir, sempre –, um dado tão duro como o divulgado pelo IBGE indica que este
é o momento ideal para ocorrer uma reversão imediata de tendência, já que a
economia deprimida precisa de poucos, mas incisivos movimentos de estímulo para
mudar de trajetória.
Mas não podemos nos iludir: o
emprego é um dos últimos a reagir quando ocorre a retomada da atividade
econômica. Antes disso, outros elementos impulsionadores da economia precisam
estar fortalecidos.
No início do quarto trimestre
do ano passado, a Deloitte realizou a pesquisa Agenda 2017, que apontava expectativas de retomada
gradual do crescimento. Desde aquele momento, alguns indicadores e fatos
ocorridos podem ter refreado o ímpeto dos gestores, que desejavam a reversão do
cenário negativo. Mas, o caminho da retomada nos parece ser aquele mais
factível, já que o inverso equivaleria a condenar nossa economia a um terrível
quadro de depressão.
No estudo, a maioria dos
gestores esperava que o nível de emprego de suas organizações fosse mantido
(para 58% dos participantes), ou mesmo ampliado (26%). Apenas 16% estimavam
reduzir seus quadros funcionais em 2017. Se boa parte dessas projeções se
tornar realidade, as expectativas tendem a se manter positivas.
Das empresas que pretendem
manter ou contratar funcionários, 43% admitem intenção de procurar
profissionais mais qualificados. Desse modo, e pensando na perenidade das
empresas brasileiras, o levantamento do IBGE pode até representar estímulos à
retomada. Afinal, a oferta de mão de obra está alta, e é possível absorver
profissionais qualificados, que podem contribuir com a melhoria das estruturas
corporativas.
Profissionais qualificados
tendem a ajudar na adoção de inovações e na renovação de expectativas e
possibilidades empresariais. Tudo isso deve ser aliado ao uso e à aplicação de
novas tecnologias para a gestão e produtividade, que estão mais acessíveis e
que têm potencial de transformar as organizações.
O Brasil, o brasileiro e
nossos gestores não podem ficar paralisados nesse momento, que tem sido cruel
com as pessoas e as organizações. Sair da inércia e transformar nossa atual
realidade é a única forma de projetar um futuro mais equilibrado e adequado ao
país. Pode parecer fácil apenas falar em transformação, em reação e em mudança
de cenários. Mas essa é a opção que temos para fazer com que pessoas e
instituições não apenas sobrevivam, mas vivam a intensidade de um país com grande
potencial e que pode nos oferecer muito mais do que tem sido permitido em
função da crise.
*Othon Almeida é
sócio-líder de Desenvolvimento de Mercado da Deloitte Brasil.
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