Fernando Rizzolo
Depois de um longo período no qual a retórica política foi
baseada na tolerância, na diversidade, fruto dos ideais da esquerda no mundo
Ocidental, muito mais como forma de conquistar mentes e corações do que de
efetivamente pôr em prática aquilo que se apregoava, nós nos vimos, de uma hora
para outra, de fronte a um discurso direitista, em que o politicamente
incorreto é a norma a ser seguida, deixando o esquerdismo perdido, sem
instrumentos para se reafirmar.
Fica claro que isso é um fenômeno mundial, mas o
interessante é que, nos países da América Latina, tornou-se mais evidente, haja
vista milhares de pessoas no Brasil, fartos da corrupção, da bandalheira, da
politicagem e ao mesmo tempo intolerantes com os discursos da esquerda, saírem
às ruas, quando, outrora, se envergonhavam disso, visto que o esquerdismo
tupiniquim sempre enaltecia a diversidade puramente para fins de controle
político-social.
A própria Constituição de 1988 é fruto do pensamento
socialista, paternalista, assim como nossa legislação penal, principalmente a
Lei de Execução Penal, que chega a ser condescendente com criminosos perigosos.
Com efeito, talvez o título deste artigo fosse com mais perfeição denominado
como um discorrer sobre o repensar a sociedade na pós-modernidade, das relações
líquidas, do consumir, como assim classificava o sociólogo e filósofo polonês
Zygmunt Bauman, que há pouco faleceu. No contexto social, concordo plenamente
com a percepção do grande sociólogo, porém em contrapartida formou-se uma
lacuna na qual a perda do controle do estado nas relações com os atos ilícitos
tornou-se frouxa, aumentando por demais a criminalidade e a impunidade. A
grande verdade é que a sociedade construída pela visão individualista, já
descrente dos valores do esquerdismo que serviu, principalmente no Brasil, como
esteio e retórica política, atuando no seu mais pleno desvio de finalidade a
serviço da corrupção endêmica, se esgotou em seu próprio discurso.
Portanto, o mundo já não tolera o modelo esquerdista
permissivo e exige uma mudança radical em que a “mão firme”, a xenofobia, e
muitas vezes a intolerância passam infelizmente a ser aceitas em nome de uma
segurança social. Portanto, a vitória de Donald Trump, assim como o Brexit na
Inglaterra, significa uma tentativa de reaver os valores perdidos, o
nacionalismo, afastando de vez, como dito acima, a disposição da liberalidade e
da “frouxidão esquerdista” no Ocidente. É interessante notar que até em
prefeituras como a de São Paulo, comandada pelo prefeito João Dória, o
exercício da reeducação social é feito e elaborado em sintonia com a opinião
pública que o apoia com declarações abertas contra pichadores, por ele
considerados bandidos, no que é apoiado por parte significativa da população
paulista.
Enfim, Donald Trump, a saída da Inglaterra da Comunidade
Europeia, o Brexit, a direita ganhando espaço em toda a Europa, a luta contra o
terrorismo islâmico, juízes implacáveis contra a corrupção, como o Juiz Sergio
Moro, e o olhar da sociedade nos movimentos do STF, ao inferir se realmente estamos
reeducando a nossa sociedade e passando o país a limpo, são fatores em que o
ideal neoconservador se dispõe a dar numa nova visão a uma nova sociedade que
se forma no mundo, e o Brasil, chancelado internacionalmente como um dos países
mais corruptos do planeta, não tem como fugir desta nova realidade. Antes
éramos populismo, paternalismo, socialismo, corrupção empresarial. Agora,
chega. Queremos ordem, seriedade e pouco discurso antigo. Devemos seguir os
caminhos do mundo atual, pois foi o que nos restou seguir.
Fernando Rizzolo é Advogado, Jornalista, Mestre em Direitos
Fundamentais, Professor de Direito
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