Artigo
Com 67,6%
de seus 200 milhões de habitantes em idade ativa (15 a 64 anos), o país passa
pelo chamado bônus demográfico, estágio em que a estrutura etária da população,
composta majoritariamente por pessoas aptas ao trabalho, contribui para a
expansão do PIB. Porém, o que seria uma oportunidade tende a se tornar um
grande problema. Sem o devido processo de formação e de capacitação para a
produção eficiente, há um grande volume populacional improdutivo, com baixa
capacidade de geração de renda, que imporá um elevado custo ao Estado quando
for se aposentar.
A
improdutividade do brasileiro supera em muito o problema da estrutura da
Previdência, que tem apresentado um rombo crescente: os gastos passaram de 0,3%
do PIB em 1997 para 2,3% em 2016 e são projetados em 2,7% neste ano, valor
estimado em R$ 181,2 bilhões. Por mais que se debata a necessidade da Reforma
da Previdência, problemas estruturais, que reduziriam o elevado déficit, ficam
de lado. A falta de qualificação do trabalhador é um dos principais. Enquanto
nos Estados Unidos se requer apenas um trabalhador fabricar
determinado produto, no Brasil, precisa-se de quatro pessoas, segundo
levantamento do ConferenceBoard, compilado pelo Instituto Brasileiro de
Economia, da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Esta
situação, aliada à crise econômica, piora muito as perspectivas de qualidade de
vida quando se chega à idade da aposentadoria. É preciso lembrar que a produtividade
está ligada à capacidade de crescimento, geração de riqueza e qualidade de vida
de uma economia. Porém, enquanto se debate a necessidade da Reforma da
Previdência, não existe o menor esforço para ampliar a capacidade produtiva dos
milhões de jovens que se afastam da educação formal e se tornam atores
produtivos ineficientes. Não é de se estranhar que o governo queira que
nos aposentemos mais tarde.
Ampliar a
capacidade produtiva exige uma melhor capacitação técnica dos brasileiros, o
que depende de vontade política e foco, o que não se observa atualmente. Mais
de 50% das vagas de Educação Superior ofertadas não são preenchidas. A evasão
média dos programas de Educação para Jovens e Adultos supera 80%. Ainda assusta
o fato de que mais de 33% dos jovens não concluem Ensino Médio porque não se
identificam com os conteúdos desenvolvidos e não há contextualização para o
mundo do trabalho.
Nota-se a
necessidade de oferta de uma formação mais técnica, que se aproxime do mercado
de trabalho. No entanto, três anos após ser formatado em lei, o Plano Nacional
de Educação não é sequer registrado como linha de ação do Ministério da
Educação. Dentre suas principais metas destacam-se três: meta 12, de Ampliação
do Acesso ao Ensino Superior; Meta 10, de Ampliação dos Programas de Educação
para Jovens e Adultos com Profissionalização; e a Meta 11, de Ampliação da
Educação Profissional. São as três que sustentam a formação e capacidade de
produção mais imediata para o país. Sem desprezo, as outras 17 se voltam ao
ciclo normal e são estruturais.
Melhor
discutir a inovação aplicada à educação para a produtividade do que discutir a
Reforma da Previdência. O maior dos males é não tratar a causa e sim os
efeitos, isto é ciência, isto é saber, isto é aplicação do conhecimento.
(*) Cesar Silva é presidente da
Fundação FAT, entidade sem fins lucrativos que atua na estruturação e aplicação
de cursos e programadas destinados a capacitação, atualização e treinamento.
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