* Professora Michele Cristina Francisco
Ensinar sobre a cultura africana e afro-brasileira nem
sempre é fácil para muitos professores. Contudo, o conteúdo é obrigatório
perante a lei 10.639/03 e mais ainda para o combate ao racismo e ao
preconceito. O trabalho se torna muito mais fácil quando se tem um Projeto
Político Pedagógico adequado que atenda a um currículo bem elaborado.
Para que um conteúdo seja de fato absorvido é preciso que
ele seja discutido. Melhor ainda se houver a colaboração de todo o corpo
docente na elaboração das aulas. Ideias interdisciplinares é uma ótima escolha
quando se trata de um assunto tão vasto como é o estudo da África. Porém, para
dar certo, é necessário que haja planejamento. Tabus e ideias retrógradas devem
ser repensados para que o estudo não caia no abismo do ensino racista. É muito
comum que o ensino da África se resuma apenas nas aulas de História, onde o
continente aparece somente na linha do tempo do período colonial. A África não
é só isso. A África é muito mais.
A educação no Brasil tem um formato catequético graças aos
europeus que aqui estiveram e delegaram à Igreja o papel de ensinar. Mesmo após
a expulsão dos jesuítas do país, outros setores da Igreja ficaram com a incumbência
da educação e mantiveram o jeito tradicional do Cristianismo. É claro que desde
quando a escola tornou-se laica o ensino de outras religiões (e, por
conseguinte, as de matriz africana) começaram a surgir nas aulas de Ensino
Religioso.
Contudo, o modo como religiões como a Umbanda e o Candomblé ainda
são ensinadas com uma linguagem inadequada. Na contramão desta realidade, há
também estabelecimentos de ensino que fazem questão de ensinar os alunos a
respeitar uma religião que nem sempre é igual à deles. São escolas que ocupam
casas e terreiros, onde mais importante que aprender Matemática ou Português é
aprender a respeitar o próximo independente de sua raça, cor ou religião.
É preciso pensar na importância de fazer os alunos aprender
que os povos africanos encontraram muitas vezes na religião a ligação com sua
ancestralidade. Eles mantêm nos terreiros suas memórias orais e sentimentais e,
o mais importante disso tudo, eles têm orgulho de todos os ensinamentos que
aprenderam de geração em geração.
Com essa idéia em mente, podemos novamente nos valer da lei
10.639/03 que, em seu artigo 79-B Parágrafo terceiro, prevê a inclusão do dia
20 de Novembro como o “Dia Nacional da Consciência negra”. Em uma escola que
inclui a cultura africana em seu currículo, este dia não pode passar
despercebido. Porém, fazer com que este seja o único dia para falar sobre a
cultura africana e afro-brasileira não faz sentido nenhum para os alunos e eles
encaram como mais um dia não letivo ou feriado de descanso.
O ideal é que o ensino dessa cultura já faça parte do
cotidiano escolar para que no dia haja de fato conscientização da comunidade
escolar, através de debates e discussões de como o negro é tratado hoje e de
como podemos colaborar para que episódios preconceituosos fiquem
definitivamente no passado.
Como podemos observar, há muito que trabalhar sobre a África
na sala de aula. Os professores deverão pesquisar e desenvolver materiais
didáticos que contemplem a diversidade racial. Com foco nas indicações da lei,
há lugar para todas as vertentes de estudo, esta é a chance de descobrir a
África de modo verdadeiro e humano.
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