quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Como seria nossa vida se somente as nossas qualidades fossem observadas?

*Carla Batista Baquim


Estamos tão acostumados a sermos notados somente pelos nossos defeitos e a ouvir palavras negativas em diversas situações, que não percebemos quando fazemos isso com as crianças.

A maior parte de nosso aprendizado, principalmente na infância, é por tentativa e erro. Seguimos nosso impulso e se tivermos um resultado legal vamos repeti-lo todas as vezes que desejarmos ter aquela resposta. Por exemplo, desde os primeiros momentos de vida um bebê chora e recebe a atenção da mãe com um olhar carinhoso, um colo, um cuidado especial, um sorriso ou um leite delicioso que vai saciar a sua fome e deixá-lo mais confortável. Assim, ele aprende que todas as vezes que ele quiser receber algo, deve chorar, todas as vezes que ele der um sorriso, receberá um sorriso de volta e todas as vezes que ele balbuciar, alguém conversará com ele.

O tempo passa, ele cresce e aprende a se locomover sozinho. Começa a explorar cada canto da casa e percebe que em alguns lugares que ele mexe alguém diz “não, não” e se ele insistir naquilo alguém irá tirá-lo de perto para não ter acesso, aos poucos esse bebê vai aprendendo o que ele pode ou não fazer. Esse aprendizado pode ser rápido ou demorar um pouco mais, mas ele acontece.

A criança vai crescendo e vamos ressaltando o que não pode ser feito, porque aprendemos a viver assim e na maioria dos casos dá certo. Mas, quando não recebemos bons resultados e ela emite inúmeros comportamentos inadequados, devemos prestar atenção em todas as suas ações para tentar compreender o motivo que a leva agir daquela maneira. Na maioria dos casos é possível observar uma incessante busca por atenção e ela fará o que for necessário para recebê-la.

Vamos refletir um pouco...

Se seu filho emite um bom comportamento, normalmente receberá como resposta um sorriso, um abraço, ou uma felicitação como “Muito bem!”.

No entanto, se ele emitir um mau comportamento, fazendo algo que foi alertado a não fazer, receberá como resposta um longo sermão para relembrar o motivo que tal atitude não pode acontecer, uma explicação de como será o seu castigo.

Imagino que você já tenha vivenciado as duas cenas e já pode perceber que, na maneira como foram descritas, a resposta para um comportamento inadequado gera um tempo de atenção muito maior que a resposta dada ao comportamento adequado.

Assim, podemos observar que, embora seja algo negativo, a criança recebe um tempo de atenção maior quando emite um mau comportamento. E se o desejo dela é ter atenção do adulto, ela emitirá os maus comportamentos mais vezes porque já aprendeu que assim terá uma resposta mais próxima daquilo que busca. Isso não mostra que ela gosta ou deseja ser castigada, mas sim que sabe o que fazer para ter a maior atenção possível de cada adulto.

Nesse caso, o melhor caminho para aumentar a emissão de bons comportamentos é mostrarmos às crianças como elas devem se comportar em cada situação do dia a dia e, nesse momento, evitar a palavra “não” é muito significativo e facilita a compreensão daquilo que você deseja que ela aprenda. 
Por exemplo, podemos dizer “use a voz baixa aqui”, “fale coisas legais para as pessoas”, “ande devagar pela casa, vamos evitar machucados”, “brinque com a bola na varanda”, “seja gentil e faça carinho no seu irmão (a)”, “estamos no supermercado e precisamos ter cuidado, deixe que a mamãe ou o papai pegue as coisas para colocar no carrinho”.

Dessa forma, mostramos o que pode ser feito em cada momento e estabelecemos regras a serem seguidas, podendo até fazer um combinado que a cada regra respeitada, a criança ganhará um tempo maior para brincar com o papai e a mamãe, ouvirá a sua história preferida, poderá escolher algo para o jantar ou ter uma sobremesa. E se no final da semana tiver conquistado o acesso a todas as recompensas, poderão fazer um passeio em família.

Cabe ressaltar que a recompensa de cada combinado deve ser entregue todas as vezes que a regra for cumprida. Caso o comportamento inadequado apareça, simplesmente diga “que pena você não conseguiu cumprir nosso combinado” e em outro momento, relembre os combinados para que os comportamentos adequados aumentem de frequência e façam parte da rotina.

Não é fácil lutar contra nossos impulsos, mas é facilmente visível que falar coisas positivas e mostrar o que as crianças devem fazer em cada momento de seus dias geram um resultado muito positivo em todos os aspectos, além de fortalecer nosso vínculo com elas e deixa-las mais confiantes, ensinando-as a cumprir as regras pré-estabelecidas e ter atitudes mais positivas em sociedade.

*Carla Batista Baquim - Professora do Colégio Renil


0 comentários:

Postar um comentário